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Vozes Jovens pelo Desarmamento: A Experiência de Júlia no Hiroshima-ICAN Academy 2025

  • Júlia Marcon
  • há 4 dias
  • 4 min de leitura
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Entre os dias 14 e 18 de outubro, Júlia Marcon, membro da Dhesarme, participou da “Hiroshima ICAN Academy on Global Security and Nuclear Weapons 2025” em Hiroshima, no Japão. O evento foi organizado pela International Campaign to Abolish Nuclear Weapons (ICAN), em parceria com a Prefeitura de Hiroshima e a organização japonesa Peace Boat, e reuniu jovens ativistas de diferentes países para discutir os impactos humanitários do uso de armas nucleares.


Como foi sua experiência na Hiroshima Ican Academy 2025?

A experiência foi extremamente desafiadora e transformadora. Viajar sozinha para um país tão distante quanto o Japão significou não apenas atravessar oceanos, mas também mergulhar em uma cultura completamente diferente da brasileira. Além disso, foi a primeira vez que participei de um evento internacional representando a Dhesarme, e confesso que senti medo de não estar pronta o suficiente para essa responsabilidade. As inseguranças eram muitas, o idioma, a distância, o peso simbólico do evento, mas tudo mudou no instante em que cheguei a Hiroshima e vi o Domo da Bomba Atômica diante de mim. Naquele momento, percebi que estava exatamente onde deveria estar e todo o estudo e dedicação à temática do desarmamento nuclear ganharam um novo sentido ao estar no lugar onde uma arma nuclear foi usada pela primeira vez na história. Durante os dias do evento, vivi experiências que levarei comigo por toda a vida. Tive a oportunidade de ouvir os relatos dos Hibakusha, sobreviventes da bomba, que compartilharam suas memórias do dia do ataque e as cicatrizes que carregam até hoje, físicas e emocionais. Além disso, visitei o Museu da Paz, as árvores que resistiram à explosão e um instituto dedicado ao estudo dos efeitos da radiação, onde compreendi com mais profundidade o alcance da destruição causada por esse tipo de armamento. Além das experiências locais, o contato com jovens ativistas de todo o mundo foi igualmente marcante. Pessoas de diferentes países, idiomas e culturas se uniram com um mesmo propósito: construir um futuro livre de armas nucleares. As trocas de experiências e histórias de militância me emocionaram e fortaleceram minha convicção de que a luta pelo desarmamento é global e coletiva. Representar o Brasil em um espaço tão simbólico e relevante foi uma grande honra e retornei do Japão com o compromisso renovado de continuar trabalhando por um mundo mais seguro.


Quais lições você tirou dessa experiência?

Uma bomba impactou milhares de pessoas de maneiras profundamente diferentes. Ainda assim, a narrativa sobre o ataque nuclear a Hiroshima costuma ser reduzida a números e estatísticas, como se fosse possível resumir tamanha tragédia a uma contagem de vítimas. Pouco se fala sobre as experiências individuais das pessoas que viveram aquele dia, especialmente mulheres, crianças, idosos e grupos marginalizados. Mulheres, por exemplo, enfrentaram não apenas os efeitos imediatos da radiação, mas também sobrecargas emocionais e sociais na reconstrução da cidade. Crianças cresceram marcadas por traumas e doenças. Além disso, fatores de classe e origem influenciaram fortemente a capacidade de cada pessoa se reerguer. Muitos imigrantes e trabalhadores pobres sofreram impactos mais severos e tiveram menos acesso a cuidados e reparação. Diante disso, a principal lição que levo é que, ao tratarmos de conflitos armados e de políticas de desarmamento, é indispensável adotar uma abordagem interseccional, que leve em conta as dimensões de gênero, classe e raça. Só assim podemos compreender verdadeiramente as consequências humanas da guerra e trabalhar por soluções que sejam não apenas eficazes, mas também justas e inclusivas.


Como é ser ativista pelo desarmamento nesse tema hoje?

Advogar por um mundo sem armas nucleares é desafiador, especialmente sendo estudante de Relações Internacionais e atuando na área de segurança internacional, onde a lógica da dissuasão ainda é amplamente aceita. Muitas vezes, parece impossível mudar um sistema em que poucos tomam as decisões e os Estados relutam em abrir mão de seu poder militar. É fácil desanimar diante desse cenário, mas experiências como a que vivi em Hiroshima me lembram por que esse trabalho importa. Ao redor do mundo, há jovens dedicando suas vidas a essa causa, movidos pela mesma esperança de um futuro livre da ameaça nuclear. Olhei nos olhos de sobreviventes e ouvi, de suas próprias vozes, o sofrimento que essas armas causaram. Por causa deles e de todos que perderam a vida, não podemos parar de lutar.


Na sua opinião, quais são as dificuldades enfrentadas por jovens ativistas no desarmamento?

Acredito que os jovens ativistas enfrentam grandes desafios para provar seu valor e a competência de seu trabalho. Em muitos espaços de tomada de decisão, tanto em nível nacional quanto internacional, predominam pessoas mais velhas e experientes, o que faz com que nossas vozes sejam frequentemente invalidadas ou reduzidas a uma participação simbólica. No entanto, no campo do desarmamento, a presença juvenil é especialmente importante, uma vez que somos uma geração que herdará as consequências das decisões tomadas hoje e que traz novas formas de pensar segurança e cooperação. Incluir jovens de forma efetiva nesses debates é essencial para renovar ideias, promover uma visão mais humana da segurança e construir políticas realmente comprometidas com um futuro livre da violência armada.


Qual é sua mensagem para outros jovens ativistas?

Nunca deixem de acreditar no seu trabalho e nas pautas em defesa do desarmamento. Sei que o cenário atual pode, muitas vezes, parecer desanimador, especialmente diante da lentidão das mudanças e da resistência de certos setores. No entanto, cada ação, por menor que pareça, contribui para um movimento global que ajuda a salvar vidas. O impacto do nosso trabalho, na maioria das vezes, não é imediato, mas se acumula em cada conversa, campanha e decisão influenciada.


Participar da Hiroshima ICAN Academy 2025 foi uma experiência transformadora e inesquecível. Tive a honra de aprender com especialistas, ativistas e, principalmente, com os Hibakusha, cujos testemunhos me tocaram profundamente. Gostaria de expressar meu sincero agradecimento à ICAN, à Prefeitura de Hiroshima e à Peace Boat por viabilizarem esta experiência única de aprendizado, intercâmbio e reflexão. Também sou grata aos meus colegas da Dhesarme, pela parceria, inspiração e companheirismo ao longo desta jornada, e ao professor Gustavo Vieira, por seu apoio, orientação e incentivo constantes. O trabalho incansável dessas instituições e pessoas na promoção da paz e do desarmamento nuclear é inspirador e me motivam diariamente a continuar trabalhando. 

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