Vozes Jovens pelo Desarmamento: A Experiência de Giovanna no Tratado de Minas
- Giovanna Rezende
- 19 de jun.
- 3 min de leitura

Em novembro de 2024, Giovanna representou a sociedade civil brasileira na 5ª Conferência de Revisão do Tratado de Erradicação de Minas Terrestres, no Camboja, como fellow da Mines Action Canada e integrante da delegação da International Campaign to Ban Landmines – Cluster Munition Coalition (ICBL-CMC). Ela conta como a experiência foi intensa e cheia de aprendizado.
Como foi sua experiência na Conferência e no Mine Action Fellows Forum?
Foi uma experiência marcante e transformadora. Participar da conferência como jovem ativista e representante da sociedade civil brasileira me trouxe a dimensão concreta do trabalho que realizamos diariamente. Estar ao lado de representantes de Estados, organizações internacionais e colegas ativistas me permitiu visualizar os impactos reais das campanhas de desarmamento que tanto estudo. Na ocasião, também tive a oportunidade de visitar o Peace Museum of Mine Action, onde vi de perto simulações de desminagem com equipamentos, cães e até ratos treinados. Além de ouvir histórias de sobreviventes e acompanhar debates técnicos e políticos.
A formação oferecida pela Mines Action Canada durante a semana foi essencial para que eu me sentisse cada vez mais segura e preparada para participar da conferência. Os treinamentos prévios e os momentos de preparação estratégica nos deram ferramentas concretas para compreender a estrutura do tratado, os mecanismos de tomada de decisão e, sobretudo, o papel da sociedade civil nesses espaços. Além disso, o apoio contínuo da equipe durante os dias de conferência nos ajudou a refletir sobre nossas intervenções, elaborar perguntas relevantes e identificar pontos-chave nos discursos dos Estados. Essa formação não foi apenas técnica, mas também política e emocional, acho que uma das coisas mais marcantes para mim nessa experiência.
Quais lições você tirou dessa experiência?
O impacto do nosso trabalho vai muito além das nossas fronteiras imediatas. A construção de políticas humanitárias é feita por muitas mãos, e graças a Mine Action Canada pude ver como a juventude pode possuir um papel fundamental nesse processo. Aprendi que não existe espaço "pequeno" para a mudança: cada fala, cada reunião e cada escuta são oportunidades de ação. Também entendi o valor da coragem e da preparação, especialmente para enfrentar ambientes que podem parecer intimidadores à primeira vista.
Como é ser ativista pelo desarmamento nesse tema hoje?
Ser ativista pelo desarmamento hoje é caminhar entre esperança e urgência, principalmente no cenário atual onde muitos Estados estão denunciando o Tratado. De um lado, temos tratados e campanhas que mostram o quanto já avançamos; de outro, vemos conflitos contínuos e o uso persistente de armas proibidas, afetando principalmente civis. Trabalhar com o desarmamento é resistir à normalização da violência e lutar por um mundo onde a dignidade humana esteja acima de interesses militares ou econômicos. O que me parece cada vez mais dificil.
Na sua opinião, quais são as dificuldades enfrentadas por jovens ativistas no desarmamento?
Precisamos, muitas vezes, provar nossa competência para sermos levados a sério, especialmente em ambientes diplomáticos e técnicos onde Estados visam lucro e militarismo acima de tudo. Também percebi que muitos representantes dos Estados presentes não sabiam do tema, apenas estavam lá, o que dificultou algumas ações em busca de informações confiaveis.
Qual é sua mensagem para outros jovens ativistas?
Acostumada com pessoas duvidando que sei do que estou falando, demorei para entender que estava em um lugar onde queriam me ouvir e que não precisaria provar minha competência o tempo todo. A MAC nos fez sentirmos confiantes e importantes como qualquer outro presente naquela conferência. Por isso digo, acreditem no valor do que vocês fazem. Cada passo dado na defesa dos direitos humanos e na luta pelo desarmamento importa. Mesmo quando parecer pequeno ou invisível, seu trabalho está semeando algo maior. Busquem apoio com outros ativistas, estudem, conversem com quem veio antes de vocês, mas também tenham coragem de propor novos caminhos. Muitas vezes temos muito a dizer, mas pensamos que somos pequenos demais para nos manifestar nesses espaços que, apriori, parecem intimidadores, mas acredite, sua voz pode fazer a diferença.
Agradeço profundamente à equipe da Mines Action Canada pela oportunidade, confiança e apoio, especialmente por me ajudarem a enfrentar minhas inseguranças e a entender que sim, há lugar para nós, jovens, nesses espaços. Agradeço também ao Professor Gustavo Vieira, que me acompanhou com incentivo, paciência e orientação ao longo da minha formação. E a todas as pessoas que me ouviram, dialogaram comigo e me inspiraram durante a conferência. Levo cada encontro comigo, como combustível para seguir lutando.










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