Vozes Jovens pelo Desarmamento: A Experiência de Maria Clara no TNP
- Dhesarme
- 29 de mai.
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Nessa entrevista, a discente e integrante da Dhesarme, Maria Clara Magalhães, compartilha sua participação no Comitê Preparatório de 2025 para a Conferência de Revisão do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), realizado na sede da ONU em Nova York. Ela relata os desafios e aprendizados da sua primeira conferência internacional, destaca a importância das vozes marginalizadas nos debates sobre segurança global e reforça o papel fundamental dos jovens ativistas na construção de um mundo livre de armas nucleares, mais justo e verdadeiramente pacífico.
Como foi a sua experiência no Comitê Preparatório de 2025 para a Conferência de Revisão do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares?
Participar pela primeira vez de uma conferência na sede da ONU foi uma experiência incrível e a realização de um sonho! Mesmo que o avanço do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP) ainda seja limitado, tanto na redução dos arsenais existentes, quanto na adesão de novos Estados ao Tratado. Os debates deste ano evidenciam um cenário preocupante, marcado pela retirada de acordos e pelo aumento de armamentos nucleares em algumas regiões, o que tem dificultado ainda mais os esforços multilaterais e da sociedade civil por avanços concretos pelo desarmamento.
Apesar desses desafios persistentes, participar do evento foi uma ótima oportunidade para conhecer jovens ativistas de diversas partes do mundo, movimentos inovadores da sociedade civil e até mesmo sobreviventes e descendentes das vítimas dos bombardeios em Hiroshima e Nagasaki. Um dos momentos mais marcantes foi poder ler, durante a conferência, o posicionamento da WILPF (Women’s International League for Peace and Freedom), organização em que fui como delegada e que defende causas pelas quais também apoio. Foi uma experiência que reforçou minha convicção de que a luta por um mundo mais justo e pacífico é mais necessária do que nunca.
Quais lições você tirou dessa experiência?
Fazer parte da delegação da WILPF nesses eventos sempre me leva a reflexões que vão além dos temas discutidos formalmente. Os movimentos feministas antimilitaristas, como o da WILPF, são aliados fundamentais nessa luta, pois desafiam as estruturas patriarcais, racistas e coloniais que sustentam o complexo militar-industrial. Nesse contexto, é possível compreender que os conceitos tradicionais de masculinidade e hierarquia não sustentam apenas o militarismo, mas também alimentam toda a lógica da proliferação nuclear. Essas estruturas de dominação, longe de proporcionarem segurança real, perpetuam ciclos de violência e desigualdade.
Na sua opinião, quais são as dificuldades enfrentadas por jovens ativistas nessa área?
Crescemos ouvindo que as armas nucleares são um "mal necessário", que sua existência garante a paz através do medo mútuo. Romper com essa ideia exige coragem para desafiar não só governos, mas também especialistas e a mídia. Muitas vezes, somos chamados de ingênuos, como se acreditar em um mundo sem armas de destruição em massa fosse um delírio, e não a única opção racional para a sobrevivência da humanidade.
Além disso, o sistema político e militar que sustenta essas armas é fechado e hierárquico. Enquanto as potências nucleares decidem o futuro do planeta em salas restritas, jovens, povos originários, mulheres e comunidades marginalizadas, são silenciados, mesmo que eles sejam os mais afetados. Como ativistas, precisamos lutar não apenas contra as bombas, mas contra a exclusão dessas vozes dos espaços de decisão. Afinal, como podemos falar em "segurança" quando os próprios grupos que sofrem as consequências da militarização não têm direito a opinar?
É fundamental somar forças, especialmente em um momento em que a ameaça nuclear está em ascensão, visto que, os tratados de desarmamento estão sendo abandonados, os gastos militares atingem níveis recordes ano após ano, e os países seguem investindo na “modernização” de seus arsenais, como o uso de inteligência artificial nesses sistemas de armamento.
Qual é a sua mensagem para outros jovens ativistas?
Nunca subestimem a força das suas vozes nem desistam! A construção da paz é um processo coletivo, que exige coragem para questionar estruturas de poder e imaginar alternativas radicais à violência institucionalizada. Um mundo livre de armas nucleares não é uma utopia distante, é uma possibilidade concreta, que estamos construindo passo a passo. A ONU pode não trazer todas as respostas, mas a mudança verdadeira começa quando decidimos sonhar com um futuro diferente e decidimos lutar por ele.
Muito obrigada, WILPF e Reaching Critical Will pela confiança e pela oportunidade inesquecível de representar a organização lendo um posicionamento sobre gênero e interseccionalidade. Foi um momento inesquecível que nunca esquecerei. Além do agradecimento pelo acolhimento, apoio e acompanhamento que recebi em cada etapa. Agradeço também aos Dhesarmers, com quem compartilho diariamente a luta por um mundo mais justo e livre de armas nucleares. Todo o nosso trabalho coletivo, trocas e apoio mútuo foram fundamentais para que esse momento se concretizasse. Essa conquista não é individual, é fruto de um ativismo comprometido, construído com coragem, afeto e colaboração.










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